Pages

domingo, 30 de dezembro de 2012

Dose dupla.

Às vezes acho que tenho um coração no lugar do cérebro,
porque eu posso sentir as batidas;
posso sentir a dor de pensar sentindo
e a sensação de sentir pensando,
contidas no espaço de uma contração.

Enquanto os outros usam suas cabeças para pensar na vida,
a minha quer sentir.
Sente a perda, a culpa e a saudade.
Sente o adeus, o medo e a verdade.

E assim, todo verso fica pequeno;
toda poesia, incompleta.
Pois aqui dentro há dois corações
que pulsam sem compasso e pedem pra ir embora.
Só.

Uma pena que eu não saiba pensar,
não saiba ir sem desejar voltar.
Só deixar para trás, sem olhar para os lados.
Esquecer.

Mas eu não sei esquecer,
só sei querer.
Querer que volte, querer que pare, querer que fique.
Querer o antes, querer agora, querer um sempre.

Para sempre.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O apocalipse é você.

Esses dias eu parei para olhar para os lados, algo que há muito não fazia. Bateu saudade e eu fui. Preferia não tê-lo feito, todavia. O que eu vi daria um livro, com páginas manchadas de lágrimas e sangue. Foi horrível. E o pior de tudo foi a minha falta de espanto. Como se eu não pudesse esperar nenhuma atitude melhor mesmo; é decepcionante. A sensação de não poder criar boas expectativas é indescritivelmente assustadora. Como se não houvesse solução. Impotência. Frustração. 
Eu vi a dor. Fraturas expostas e até remoção de órgãos. Vi o ódio, sem motivação, estampado nos olhares entre as pessoas. Justo nos olhos, meus preferidos. Eu vi a vontade de vingança, o desdém e a provocação barata, bem ali, na minha frente. Vi o desprezo, a indiferença e a falta de criatividade. Vi uma ausência expressiva de personalidade e a ingenuidade imbecil na crença de que é possível ser igual a alguém. Vi personificações da maldade, da ironia e da mentira. Mentiras tão verdadeiras que fizeram de grandes verdades, uma imensa ilusão. Vi pessoas sofrendo, vi lágrimas e diante da minha incompetência, mal consegui enxugá-las. Encontrei pessoas que feri. Feridas. Eu vi gente virando as costas ao invés de estender a mão. Vi luzes se apagarem. O sol se esconder. A chuva lavar a alma. Vi marcas que ficaram nos lugares que visitei e as lembranças que elas guardarão. Vi o sofrimento. Vi quem deseja o sofrimento alheio. Provoca. Abre as feridas. Vi a satisfação em fazer alguém sofrer. O prazer pela queda do outro. Vi a crueldade, genuína. Vi mais pessoas torcendo contra que a favor. Vi a solidão. O fim. Eu vi o fim de tudo.
Definitivamente, a culpa não é do mundo. O apocalipse está dentro de nós, que assistimos esse jogo de horror calados, apontando as machucados apenas como consequências da vida. Não são. O nome disso é desrespeito, dos grandes.
E de acordo com meus cálculos, a humanidade anda perdendo, ou melhor, anda perdida. Em meio à tantos erros, talvez seja mesmo a hora de virar a página e começar a primeira linha de novo. Começar pelo respeito e pelo cuidado com o outro.
Convenhamos que não dá para viver desse jeito. Se você é emocional, é tolo. Se é racional, é frio. Se quer ajudar o próximo, é sonhador. Caso contrário, é sem coração. Se escreve poesia, é esnobe. Se escreve ficção, é desocupado. Se escreve crônicas, é infeliz. O problema é que você escreve, mas se não o faz, ninguém te ouve. Se sorri, parece bobo. Se chora, parece fraco. Se diz que tudo está bem, é mentiroso. Se diz tudo o que pensa, é corajoso. Se pensa antes de falar para não machucar quem ama, é covarde. Se você é quieto, é sozinho. Se é falso, é popular. Se você quer agradar, força a simpatia. Do contrário, será chamado de chato. Eles querem que você não seja você mesmo, porque na maioria das vezes, isso não corresponde às expectativas. Preferem a mentira, o egoísmo e o sorriso forçado. Uma pena.
E sinceramente, em um mundo em que demonstrar sentimentos é ser considerado vulnerável e fraco, eu não vejo outra solução que não o fim. Quem sabe o novo começo traga mais doçura e sensibilidade.
Que esse mundo acabe logo, por favor.

sábado, 10 de novembro de 2012

Me dê a mão. Vamos sair pra ver o sol?

De repente, deu vontade. De sair andando na chuva. De correr na grama. De olhar para o céu durante horas. De ver o sol se pôr. De dançar no meio da rua, ouvir aquela música bem antiga e esquecer do mundo. Esquecer, acho que é isso. Esquecer que o mundo gira, que amanhã é domingo e que depois é segunda. Esquecer o que incomoda. Mudar o caminho. Assim, sem motivo. 
Vontade de pegar fotos antigas e comprar um livro novo. Vontade de ser. E de sentir. Arriscar. Fazer uma tatuagem. Olhar o mar. 
Pensar em você. Só faz sentido com você. Escrever uma poesia só para registrar tudo que já aconteceu desde que te conheci. Vontade de passar a noite toda olhando seus olhos. Velando seu sono. Vendo você sonhar. Só ficar perto. E ouvir sua respiração.
Vontade de sair correndo até onde você está, só para dizer que eu estou do seu lado. Mostrar o quanto você me importa. Dar um abraço, daqueles longos, que duram a eternidade em alguns segundos. 
E quando eu chegar, por favor, não diga nada. Hoje é o meu dia, e eu preciso falar. Preciso te entregar uma encomenda. Dizer que te pertence. Mostrar que meu coração agora é nosso. Fazer você sorrir, mesmo sem motivo. Contar uma piada besta, só para te ver feliz. Fazer você feliz. É isso.
Foi do nada, deu vontade e eu escrevi. Deu vontade de gritar aos quatro cantos do mundo o quanto eu te amo. E aqui estou. Agora vamos sair por aí. Quero ver o sol. Quero ver como ele fica mais brilhante com você comigo.
Me dê a mão?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

(In)evitável.

Dor. Ele acordou naquela manhã com mais dores que o normal. A situação já estava ficando insuportável e há dias ele sofria calado. Era um rapaz jovem, teoricamente saudável, com mais ou menos 21 anos, apesar da aparência de 35. Encorajado, Rodrigo decidiu acabar logo com aquela dor e foi à procura de um médico. Tomou seu café forte de sempre, vestiu-se à moda "primeira-roupa-que-encontrei" e, ao se olhar no espelho, chegou a desconhecer seu próprio rosto. Admitiu que a última semana fora difícil e lidar com tantos problemas tinha o deixado visivelmente derrotado.
A consulta começou com 15 minutos de atraso. Quinze toleráveis minutos, nos quais Rodrigo pôs-se a imaginar como seria o médico-monstro. Confessemos, Querido Leitor, que todos nós já passamos por uma sala de espera pensando em qual seria a forma da figura mitológica que abriria a porta e chamaria nosso nome. Com Rodrigo não era diferente.
Quando finalmente entrou na sala, a cena lhe parecia tão agradável que, por um momento, esquecera-se do propósito que o levara ali. O médico era um jovem senhor de uns 70 anos. A sala tinha dois grandes vidros na parede esquerda, os quais conferiam um visual deslumbrante de toda a cidade. Definitivamente, aquele lugar não parecia em nada com os outros consultórios médicos. Era claro, arejado e com um aroma de vida que ele nunca experimentara. Absorto em suas observações, Rodrigo percebeu que o médico o esperava de volta na consulta. Foi então que tudo começou:
- Bom dia, meu jovem. Diga-me o que está acontecendo.
- Na verdade, nem eu mesmo sei direito o que sinto, Doutor - Rodrigo parecia angustiado e o tom de sua voz revelava seu profundo desespero - é uma dor estranha.
- Em qual lugar é essa dor?
- Bem aqui - Rodrigo levou a mão ao coração e algumas lágrimas saltaram de seus olhos - é uma dor aqui dentro; e ela está me consumindo.
- Entendo. - refletiu o médico.
Toda sua experiência na área da saúde, levou o médico a desconfiar do diagnóstico. Mesmo assim, ele fez os exames de rotina e confirmou que fisicamente, o paciente não apresentava nenhuma anormalidade. Enquanto o examinava, fez algumas perguntas sobre a vida de Rodrigo, e então, pôde confirmar sua hipótese. Descobriu que, apesar da pouca idade, os pais dele já haviam falecido e que na semana anterior, sua noiva o abandonara dias antes do casamento. O rapaz sempre se sentira só e o amor ainda fora cruel com ele. Largara tudo em sua cidade natal para começar uma nova vida. Agora, ele não tinha mais nada.
O médico voltou para a mesa e disse:
- Já temos o diagnóstico - o semblante do médico não apresentava dúvidas.
- O que eu tenho, Doutor? Seja sincero. É grave? Quantos dias ainda me restam?
- Fique calmo, jovem. Não há motivos para tamanho desespero - uma risadinha escapou do canto de sua boca.
- Como não? E essa dor aqui no peito?
- Essa dor é a Dor do Desprezo, caro rapaz.
- Então o senhor está dizendo que tudo o que eu sinto, na verdade, não existe?
- Exatamente o contrário. Acontece que, na maior parte do tempo, a vida parece um grande fardo. Nós crescemos, adquirimos responsabilidades sem desejá-las e nos esquecemos de nós mesmos. Uma hora qualquer chega o amor. O ápice do contentamento e do altruísmo. Para alguns, é como tocar o céu. Para outros, a maior e melhor fonte de ilusões e angústias. Não há como descrever. Não há como dosar. As pessoas cruzam nossas vidas e isso pode ser verdadeiramente apaixonante. Você se entrega, deixa-se levar, com toda sua intensidade. O problema é que todo mundo vai ferir alguém algum dia, é inevitável.
- Mas então, como eu vou me livrar dessa sensação horrível? - Rodrigo parecia inconformado.
- Bom, não há muito o que fazer além de ter paciência e manter o foco. Mas é como eu digo: você sempre pode ter duas visões do mesmo fato. Quando estiver de frente com um copo com água até a metade, a escolha é sua. Você pode achar que ele está meio vazio ou meio cheio, sendo que a segunda opção torna a situação melhor. Ser positivo é uma tarefa extremamente complicada, e só atinge-se a perfeição com muita prática. É tudo uma questão de como você prefere enxergar sua vida.
Depois da consulta, Rodrigo escolheu um novo caminho. Deixou de ver os vazios e passou a olhar para o cheio. Se deu certo? Bom, isso não dá para saber. Mas a tentativa já valeu uma grande história.

E você, já tentou olhar para os "cheios" da sua vida?

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

E tem gente que acha normal.

Convenhamos, você não sabe o que é ter um sapato, até que sua única opção é andar descalço. Você não sabe o que é enxergar, até ficar na escuridão total. Você não sabe o que é ser forte, até que não haja outra opção. Você não dá valor à sinceridade, até que chegue o dia no qual for duramente enganado. Você não sabe o que é ter fome e nem como é sentir sede, porque nunca se privara de comida e água fresca. Você não conhece a saudade até experimentar uma amarga e longa distância. Você nem imagina como seja a solidão, até o dia que resolve abandonar a si mesmo. Não conhece a fé, porque nunca perdeu tudo.
E nem tente negar. Você não sabe o valor das coisas e acha isso normal. Falo do valor real, aquele que acrescenta experiência; não do número de notas de cem reais que você possui em sua carteira. Não importa sua classe social, o tamanho da sua conta bancária ou a marca dos carros que você guarda na garagem todos os dias. Viver não é isso. Ser feliz não é possuir e sentir não é comprar.  Afinal, reais sentimentos não se escondem em vitrines.
Mas não adianta que os outros falem, você tem que perceber sozinho. Quem nunca enxergou sob esse ângulo vai continuar achando que ter raiva é ficar indignado com o aumentos dos preços nos shoppings, ao invés de com o aumento da miséria no mundo. Vai continuar achando que frustração é ter uma roupa igual à de alguém, quando na verdade, estar frustrado é magoar quem sempre esteve ao seu lado e não conseguir pedir desculpas. Vai continuar achando que ser amado é ganhar presentes, quando os verdadeiros presentes deveriam ser beijos, abraços e olhares. Esse é o problema: quem não sente continua achando e nunca tem certeza.
Não podemos destruir algo tão belo. Por isso, não arrisque dizer que ama sem saber o que é o amor. E você só o saberá no momento em que estiver prestes a perdê-lo. Porque é na hora que seu mundo desabar que você vai entender que seu cartão de crédito não enxuga lágrimas. Será somente nessa hora que você vai aprender qual é o valor de um "eu te amo". Aquele genuíno, que vem do coração. 
Preste atenção, ser fútil não é normal.


"Muitas vezes é preciso mais coragem para enfrentar as futilidades do que para lutar contra abusos graves."

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Do latim, hypocrisis.

Cheguei com uma novidade. Não só para vocês; mas, pelo que percebo, para toda a humanidade. Antes de tudo, fiquem atentos à ironia. Tomei uma dose extra de cinismo hoje pela manhã, já que o Rivotril não está mais fazendo efeito.
Não entendo se são as pessoas à minha volta, que estão cada vez mais fúteis ou se sou eu, cada vez mais insatisfeita, o problema dessa história. Sei que alguma coisa anda errada. E a culpa é da Revolução Francesa, meus amigos. Isso mesmo. Ela chegou de mansinho, derrubando a Bastilha e germinando as ideias de fraternidade, liberdade e igualdade e pronto, estava feita a... confusão. Igualdade. Será mesmo?
Por favor, não julguem. Não estou contestando os Direitos Humanos, tampouco sou a favor da exploração das pessoas. O que quero dizer é que essa igualdade perante às leis (em negrito, para vocês enxergarem bem) não significa que alguém possa ser idêntico ao outro. Eu sei, pode parecer óbvio demais para alguns de vocês (e registro minha reverência e meus aplausos aqui). Há indivíduos, contudo, que ainda acreditam que chegarão a ser o reflexo perfeito de alguém (em pleno século XXI).
Ó Criaturas Pensantes, encostem-se em suas confortáveis cadeiras e se preparem para a novidade. Vocês até podem continuar se esforçando, mas nunca terão a mesma vida de outra pessoa. Porque, infelizmente para vocês, todos nós somos e sempre seremos completamente diferentes.
E mais uma vez, não seja radical, Leitor Querido. Nós não somos capazes, apesar do telencéfalo desenvolvido, de viver sem admirar certas pessoas e sem nos influenciarmos por seus comportamentos. Por exemplo, eu posso ser fã da Beyoncé e, por mais que meu imaginário tente, eu nunca terei uma voz tão incrível quanto a dela, nunca dançarei como ela e nem de longe e com miopia terei coxas lindas e grossas como as dela (chega a ser até piada tendo em vista meu porte físico de minhoca). Ou ainda: posso ser louca por Freud e Fernando Pessoa. Poderia passar minha vida inteira só lendo suas obras. E, mesmo com toda a fixação, eu nunca obteria os mesmos resultados de Freud e meus textos nunca teriam o mesmo brilhantismo de Pessoa. Porque, aqui, quem vos fala é a Talita, são minhas ideias e meus sentimentos.
Então, lembremos: o desejo de querer ser igual a alguém é pura ilusão. Não passa de um trabalho muito bem feito pela nossa imaginação, que só serve para nos desviar de quem realmente somos. Por isso, você pode até tentar escrever esse mesmo texto com a sua caligrafia e chamá-lo de seu. Acontece que, por trás dessas palavras, há somente uma autora. E assim sempre será.
Chega de hipocrisia.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Eu pulo, se você me der a mão.

Para ler ao som de Maroon 5 - She Will Be Loved.
Por um momento eu pensei que aquele dia não havia sido real. Mas não. Aquela lua era de verdade, aquele abraço era de verdade, aquela voz era de verdade. V-E-R-D-A-D-E. Nunca havia chegado tão perto do significado dessa palavra como agora. Para ser mais sincera, os últimos meses me fizeram entender melhor isso de ser real.
Você estava ali. Passou a fazer parte da minha vida como ninguém antes conseguira. Do meu lado, por todos os lados. Dentro de mim. Parte de mim. E é estranho que, conforme o tempo passa, mais tempo com você eu quero. Escolhi você para ocupar o espaço que me faltava e o faria infinitas vezes novamente.
Aquela noite. Aquela música. Você. Eu me virei e, em seus braços, me senti segura. Tive a sensação de que se o mundo acabasse naquele minuto, eu teria tudo o que precisava. Porque você é o que eu preciso. Fechei os olhos. Minha cabeça girava, meus pensamentos estavam a mil e na garganta, um nó. Eu me perguntava se realmente merecia tudo aquilo, se existia alguém mais feliz do que eu com você. Ao mesmo tempo, a resposta pouco me importava. Parecia sonho, parecia ideal demais.
Abri os olhos. Era realidade, era ideal. Perfeito. Não pude conter o choro. As lágrimas ali transbordaram um sentimento inteiro, que não cabia mais aqui dentro e implorava para sair. Amor. Já te falei milhões de vezes e ainda assim não era suficiente. Eu te amo.
Procurei por seus olhos e percebi que eles estavam como os meus. A primeira vez que os vi chorar; até agora não consigo descrever o que senti quando vi suas lágrimas. E acho que nem quero conseguir. Tatuei aquela imagem na minha memória e cravei as palavras que você me disse no coração - é permanente agora.
Só sei que, se pudesse, pararia no tempo só para não perder seu sorriso. Tantos detalhes. Tanta verdade. Tudo aquilo significou demais para mim. E eu até poderia agradecer, mas ainda seria pouco. Então eu escrevo, escrevo e escrevo; entrego minha inspiração em suas mãos. Para que um dia, quando meus filhos ou netos quiserem saber da minha história, eles possam sentir pelo menos uma parte do que senti naquela noite. A noite na qual te olhei sob a luz da lua e descobri que já era mais sua do que jamais fui minha.

sábado, 25 de agosto de 2012

(Res)peito.

Para ler ao som de OneRepublic - Apologize.

Conjugo verbos equivocadamente o tempo todo. Meu arroz nunca dá certo, a cozinha me odeia e essa é mais uma das minha frustrações. Tenho 19 anos, ainda não tenho carteira de habilitação e todo mundo me pergunta o por quê. A verdade é que eu sou um desastre ambulante. Adoro livros de filosofia e, no momento, estou obcecada por Nietzsche. Faço drama 24 horas por dia e se você disser que minha letra é feia, eu vou chorar. Acho que isso de viver em excesso ainda vai me matar antes da hora. Sensibilidade é meu segundo nome. Faço poesia (eu tento) com tudo, minhas histórias são ultrarromânticas e eu não sei rimar. Aliás, eu escrevo sobre tudo que me acontece e já perdi a conta de quantos rascunhos eu tenho jogados por aí. Ah, se já te dei algum dos meus textos, considere-se importante; minhas palavras tiveram pouquíssimos destinatários até hoje. Gosto do movimento da caneta no papel e de ver as palavras tomando forma. Quando a inspiração me pega, sou capaz de acordar de madrugada para escrever (meu passatempo preferido, aliás). É tão natural para mim essa intensidade. Mesmo assim, eu me acho incompetente. Quando eu coloco o ponto final no término da folha, sobra a sensação de que poderia ter ficado melhor; sempre assim. Eu sou ciumenta, indelicada e revoltada na maior parte do tempo. Quando eu não estou pensando sobre a vida, eu penso no que poderia estar pensando; no mínimo confuso. Morro de medo da solidão e todas as noites, antes de dormir, eu peço pela felicidade de uma pessoa em especial.
E agora? Eu mereço seu respeito? Agora que você sabe quais são meus medos e minhas manias, você é capaz de me respeitar? Se a resposta for sim, admirável Leitor, talvez haja um equívoco. 
Para começar, é bom deixar claro que falsidade não é respeito. O respeitar está completamente desvinculado do merecer. Independentemente do primeiro parágrafo desse texto, o respeito que há entre nós deve permanecer o mesmo. Conhecendo-me ou não, respeitar é fundamental. Você, é claro, tem todo o direito de achar tudo isso aqui um(a) -adicione o xingamento que desejar neste espaço- e eu posso, livremente, continuar produzindo. A crítica é sua, o texto é meu e a convivência continua a ser mantida. Ou deveria.
E isso tem me irritado um pouco (tá, grande novidade). A gente vive saindo por aí (inclusive nas redes sociais) cuspindo palavras por impulso e provocando outras pessoas por qualquer motivo medíocre que seja, sem perceber que alguém pode ter se ofendido, e sem demonstrar, respeitou aquele nosso momento de estupidez. Já aconteceu comigo, com alguns de vocês (ou todos) e assim será sempre.
Por isso, vamos tentar aceitar que os outros nunca serão do modo como desejamos -chorem, eu deixo-. Ninguém nunca fará as mesmas escolhas que nós um dia fizemos, e nem por isso devemos odiá-los. Você não precisa chegar no seu twitter e despejar indiretas em prestações de 140 caracteres só para se vingar. Você não precisa de frases de efeito para dizer que alguém é insuportável só porque não agiu como você esperava. Você não precisa ferir alguém para sobreviver, acredite. Porque, assim como você, o outro também tem sentimentos. Suas palavras também machucam e fazem chorar. 
Mas acalme-se aí na cadeira, Leitor querido, não estou tentando promover a paz mundial, muito menos dizendo que devemos ser todos como a Madre Tereza de Calcutá (por favor né). O que eu quero dizer é que você pode não me suportar (às vezes, nem eu mesma me suporto), pode me chamar de hipócrita, esquisita, chata e tantos outros pseudo-adjetivos de sua preferência, você tem todos esses direitos. Mas guarde-os com você, é desse respeito que estou falando. 
Por diversas vezes, já tive vontade de gritar, e calei. Tive vontade de brigar, e guardei. Tive raiva, e apesar de tudo, sorri. Posso não concordar com milhares de coisas do mundo aí fora, mas nada disso vai mudar a maneira como elas são. O respeito economiza, poupa energia celular e rejuvenesce. E eu aposto que ninguém aqui quer ficar com rugas, não é mesmo?

domingo, 15 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Os esqueletos no armário.


Por Caio Coletti.
O acaso é uma vadia, mas é um anjo se comparado à memória. Agora, imaginem esses dois juntos. Há quem fale em feridas que são cutucadas e nunca se fecham de verdade. Eu prefiro falar dos esqueletos no armário. Nada mais apropriado: o choque e a perplexidade de descobrir que aquele machucado antigo, aquela questão não-resolvida, ainda é de carne e osso (ou melhor, só osso).
Talvez seja a gente que empurre as más memórias para o fundo da cabeça, onde não conseguimos vê-las, nem senti-las, e as enterremos em cima de roupas jogadas com pressa, amassadas, no armário. Até que um dia resolvemos limpá-lo e bam!, lá está o esqueleto. Ou talvez estejamos andando na rua, e descobrimos que ele criou vida (e pernas!).
Encontrar um esqueleto no armário pode ter consequências terríveis. Pode ser que fique mais difícil seguir com o seu dia, tendo que constantemente ignorar a dor daquela ferida aberta (usando um clichê em um texto sobre um clichê, I regret nothing). Mas, com o tempo, talvez você até se afeiçoe com a caveira ossuda do seu esqueleto no armário. Não é como se você tivesse alguma escolha, afinal. Dá pra se livrar de muitas coisas, mas o passado não é uma delas.
Você vai acabar vestindo seu esqueleto, à moda da atualidade, para ele não parecer desinteressante, e maquiá-lo, deixá-lo apresentável. Transformá-lo em uma história para contar. Por mais que, no fundo, você saiba bem o quanto aqueles ossos te causaram dor, um dia.
"Um professor de redação literária que tive na San Jose State sempre dizia, referindo-seaos clichês: "Tratem de evitá-los como se evita uma praga." E ria da própria piada. A turma toda ria junto com ele, mas sempre achei que aquilo era uma tremenda injustiça. Porque, muitas vezes, eles são de uma precisão impressionante. O problema é que a adequação das expressões-clichês é ofuscada pela natureza da expressão enquanto clichê. Por exemplo, aquela história do "esqueleto no armário." - Khaled Hosseini em O Caçador de Pipas.
Não esqueçam de visitar o blog do Caio: O Anagrama.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Antes só do que mal acompanhado.

Como pode alguém nesse mundo almejar a solidão? Companhias más, todos temos. Nada ad eternum, nada que não possa mudar. Esse tal de "antes só do que mal acompanhado' soa para mim apenas como escapatória. Ou como um grande drama, se preferirem. E olha que eu simpatizo com os dramas; mas esse, esse não me agrada. Parece-me cômodo demais dizer que deseja a solidão no lugar das más companhias. Enorme besteira.
Se você sente que está mal acompanhado, está perdendo tempo em não mudar. Mude. De dentro para fora, essa é a ordem. Procure novos lugares, novas pessoas, cultive outros hábitos, crie paixões, sinta. Sair da nossa zona de conforto e recomeçar quantas vezes for necessário pode dar certo também. E vale lembrar que estar sozinho não é estar só. Se nada der certo, você ainda tem a si mesmo. Quer companhia melhor que essa?

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Cada cabeça, uma sentença.

Difícil é lidar com a verdade. A gente vive pensando e repensando nossas atitudes, ou simplesmente agindo por impulso, com o simples intuito de acertar. É o tal do maniqueísmo; o dualismo entre o bem e o mal, sempre presente em nossas vidas. Queremos acertar a cor da blusa, a caligrafia redondinha e os números da mega sena. Queremos acertar nosso caminho, nosso futuro e nossas companhias. Temos tanto medo de errar que deixamos de viver certos momentos para evitar julgamentos, interiores ou não. E só para deixar claro, não estou sendo contra o medo, nem contra esse receio de arriscar; só o descrevo como acontece.
E é aí que começa o problema. Quando a gente passa a buscar por algo correto (ele existe?) passamos a julgar as ações à nossa volta. Definimos e fixamos verdades absolutas. Que não são totalmente reais, convenhamos. Esquecemo-nos de que as pessoas são únicas, e portanto, não há como impor qualquer tipo de conceito universal sobre a vida.
Nem adianta você me dizer que nunca julgou. Porque sim, todos nós já fizemos e continuamos  o fazendo, somos humanos. Tudo que é distinto ao nosso ângulo de visão provoca certo estranhamento. Sem exageros, preconceitos e sem nos fecharmos para novas experiências, esse julgamento individual pode até continuar a existir. Mas vale lembrar que cada pessoa tem, dentro de si, seu próprio mundo, suas próprias verdades absolutas. E ele não é melhor nem pior que os demais. É apenas uma outra perspectiva para lidar com a vida. Afinal; cabeças diferentes, sentenças diferentes.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Desgraça pouca é bobagem.

Foram várias ideias, vários rascunhos e muita impaciência. Enfim, depois de algum tempo e pouquíssimas horas de sono, aqui estou eu. Resolvi aproveitar as férias para trazer de volta a proposta da série Dos Humanos (para quem ainda não leu, o primeiro texto está aqui). Desta vez também serão 7 artigos, postados 1 por dia, mas que trarão comentários e observações sobre os clichês, ditados populares, frases feitas e afins; aos quais somos expostos diariamente. Que tal pensarmos um pouco sobre isso?


Quando tudo tem dado errado e parece que você fez todas as escolhas da maneira mais equivocada possível. Você para e pensa: "Será que tem como piorar, hein vida?". Espere. Tem sim. Suponho que você esteja vivo; então se prepare, a vida ainda pode te afundar um pouquinho mais. Afinal, desgraça pouca é bobagem. E como se não bastasse um único problema, as preocupações resolvem aparecer todas-ao-mesmo-tempo-agora.
Pode ser a vida profissional que não demonstra evolução. Pode ser a amorosa, e as mentiras que ela pode trazer consigo. Pode ser a sua imagem no espelho; petulante, infeliz. Pode ser a presença de alguém, aquele ser irritante. Pode ser a existência pura e simples e o tédio que, ocasionalmente, ela promove. Ou ainda, e muito provavelmente, podem ser todas essas razões juntas. A roupa que não serve, o arroz que desanda, o cabelo que não pode ser domado. E pronto: você é um desgraçado por completo. Chora, grita e bate a cabeça na parede. Eu sei, Querido Leitor, não está fácil para ninguém.
Desistir soa como uma boa opção e até, dependendo da gravidade da situação, como a melhor. Não se culpe por ter pensado em jogar tudo para o alto, todavia. É normal que nos sintamos os mais prejudicados do mundo, acredite. É normal ter vontade de gritar quando tudo parece ao contrário. E eu arrisco até dizer que a gente tem mesmo que tocar o chão do fundo do poço para pensar em alguma saída, em algum outro caminho. É como se você precisasse ficar inteiramente no escuro para aprender a dar valor a um único ponto de luz existente, independente de sua origem ou intensidade. É só a luz que importa.
Com as "desgraças" também funciona assim. Você tem que conhecê-las para poder se livrar delas. E acredite, você só tem os problemas que é capaz de carregar. Nem mais, nem menos. É uma questão de perceber que quando sua vida vira do avesso, talvez seja porque o avesso sempre foi seu lado certo. Aguente firme. Sorria. Apegue-se à pouca luz que ainda há no seu quarto. Permita-se errar. Não há desgraça que sobreviva à isso, é infalível.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Existo onde não penso.

Esses meus textos medíocres devem fazer parte do processo. Comecei 3 ou 4 parágrafos e nenhum deles me satisfez. Apeguei-me demais às minhas palavras e, quando elas não vêm, a frustração é certa. E foi essa irritação que, mais uma vez, me fez virar a folha, respirar fundo e tentar de novo. Andei pelos textos antigos, pelos meus primeiros rascunhos, e nada apareceu.
Então, pesquisando sobre Freud, pude começar a entender. Quer dizer, pesquisando não é o termo ideal. Mais exatamente, eu fui procurar minhas palavras foragidas em algum lugar e acabei encontrando com Freud. Uma frase, especialmente, não me largou desde então. Ela resumiu tudo que eu tentei compor durante a semana toda - e não consegui.
Depois dela, não tive dúvidas de que estava no caminho certo. Era só uma questão de aceitar que há certas coisas na vida que não são possíveis de escrever, narrar ou versificar. Aceitar que sentir é deixar de pensar por um instante e se encher de lembranças, de sonhos, de atitudes. E essa, deve ser a hora na qual eu largo o papel e a caneta e me deixo escrever por algo novo, tão intenso quanto meus parágrafos e que me faça existir.

Algo que me complete. É isso.


"Existem momentos na vida da gente, em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis e, por mais que a gente pense numa forma de empregá-las, elas parecem não servir. Então a gente não diz, apenas sente" - Sigmund Freud.

domingo, 13 de maio de 2012

A frase incompleta para minha história sem fim.

E então eu percebi que nunca tinha falado Dele. Sempre tão presente e contraditório, como eu pude me esquecer? Algo tão intenso e soberano como Ele não deveria passar despercebido desse modo. Grande tolice a minha. Não sei quantas vezes eu já o desacreditei e pronunciei seu nome em vão. Quantas vezes o desafiei e o exclui da minha vida.
Sua complexidade é invejável. Talvez não haja nada no mundo que nos faça tão humanos como Ele nos faz. Não há nada tão poderoso como Ele. Senti-lo é como estar nas nuvens. A trajetória, contudo, é sempre árdua. Involuntariamente, Ele pode ser cruel. Quando resolve te esnobar, dói demais. Algumas feridas demoram para cicatrizar e só o tempo pode resolver. É, o caminho é difícil. Mas, pode valer a pena.
Porque é na hora que você está quase se dando por vencido que Ele aparece. Chega de repente, de leve, todo misterioso. Aos poucos, você se torna dependente. Como em um passe de mágica, Ele traz a cor e a direção para esse absurdo chamado vida. Você não sabe como, nem onde e nem quando, mas sabe que Ele está aqui. Você se pega pensando Nele 24 horas por dia e relaciona todas as tarefas cotidianas à Sua presença. Você tenta entender o que está acontecendo e não consegue. Ele não foi feito para ser entendido, definitivamente. Você seria capaz de descrevê-lo tão bem em seus sonhos; mas pessoalmente, todas as palavras somem. Você perde a fala, a expressão, a noção. Com Ele, é impossível prestar atenção no resto do mundo. Ele nos ocupa, nos preenche, nos completa.
O sentimento mais comentado por todos é profundamente denso. Seu nome já é rotina, mas a sensação é nova a cada dia que passa. Às vezes Ele irrita, e você sente como se estivesse sem chão. Vira a página e diz que vai escrever uma nova história sem Ele. Doce ilusão. Na primeira linha você vai notar Sua presença, fechar o livro e se achar imbecil. Pois é, você vai se achar imbecil por estar tão ligado à Ele. Vai se revoltar, se esconder e mentir. Vai dizer que é absurdamente racional mesmo sabendo que seu espírito é ultrarromântico. Vai se perder em meio a tantos pensamentos, e vai até se achar um tanto louco. Vai se sentir tão perdido a ponto de chorar. Você não sabe o que fazer ou como agir, porque agora, você e Ele são uma coisa só. Ele é seu sorriso, seus olhos, sua inspiração. Ele consegue estar bem perto mesmo quando há uma distância enorme. Ele é incrível. Ele faz você suspirar, rir sem motivo e sonhar sem parar.
Pergunto-me como algo tão incerto pode nos deixar tão realizados. Como tanta insegurança e indecisão ficam tão pequenos perto Dele? Tudo se resolve em Sua companhia. Tudo.
E é assim que deve ser. Você não sabe e nunca saberá qual será Sua duração, mas de Sua intensidade, você não possui dúvidas. Você não sabe se dará certo, mas se Ele lá estiver, você irá se arriscar. Você não sabe de Sua origem, mas daria qualquer coisa para parar o tempo, aqui e agora. Tanta confusão e tanta poesia tão intimamente unidos. Tem horas que é difícil lidar com Ele e tudo soa piegas demais. Tem dias, porém, que você só precisava ir até lá e dizer para aquela criatura, que ela é a frase incompleta que faltava na sua história sem fim.
Ele é isso. Confuso e decidido. Determinado e sonhador. Generoso e ingrato. Acima de tudo, Ele é pleno. E basta. Ai... o Amor.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Luís Vaz de Camões).

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Quando palavras não fazem sentido.

Eu percebo que há algo de errado comigo quando sento para escrever e, no auge da produção, vejo que nenhuma das minhas frases realmente faz sentido. Não sei quanto a vocês, mas essa situação me assusta de verdade. Talvez eu seja do tipo de pessoa que não gosta dessa sensação de perder o controle. Coisas que tiram meu sono e me fazem pensar demais me irritam profundamente. Não gosto de ser posta em prova. Detesto minhas dúvidas e abomino minhas fraquezas.
E diante de tal fato, aqui estou eu. Riscando símbolos sobre um papel em branco e esperando ansiosamente que tudo dê certo. Que minhas palavras me mostrem o caminho a seguir. Que no meio de escritas e rabiscos eu encontre uma nova direção, uma resposta decente.
Absurda essa confusão mental que me acompanha. Às vezes ela chega tão doce, tão leve, tão aveludada que nem parece tão confusa assim. E tem aqueles dias que ela é tão insolente, tão estúpida e tão forte que eu mal posso me reconhecer. É grave. Sou tão confusa que começo a pensar em alguma coisa e no meio do raciocínio já nem lembro mais do que se tratava. Passo tanto tempo pensando sobre a vida que meus neurônios já devem estar idosos (um pouco de drama para descontrair).
Alguns chamam esse turbilhão de emoções de nervosismo. Os Românticos, chamam-no sensibilidade. Os demais, falam que é pura loucura. E lá no fundo, é difícil encontrar alguém que compreenda sinceramente como funciona essa obsessão pelos pensamentos. Para dizer-lhes a verdade, eu também não a compreendo direito. Sei que tem algum sentimento aqui dentro que me faz ficar 24 horas lembrando de tudo. Algum sentimento que não dorme, não descansa e não ajuda. Um sentimento que não sei definir, nem nomear e que nenhum vocábulo é capaz de descrever. Algo tão profundo; tão interno; tão meu.
E o pior de tudo é que eu já me acostumei com essa sensação estranha. Já me acostumei com a perturbação, com a desconfiança, com o esconderijo. Aprendi a conviver com meu coração-pensador, que faz questão de doer demasiadamente. Acostumei-me com essa criatividade exagerada e com essa mania de ser sensível. Ainda que não pareça.
Concluí, por fim, que não há conclusão há ser feita. Talvez eu deva encontrar um outro modo de lidar com a minha vida sem tanta confusão; só talvez. Ou ainda, eu deva aceitar que estar confusa é passageiro e faz parte da aceitação, não sei. Por enquanto, deixo rabiscado aqui o quanto eu me sinto sem sentido nos últimos tempos. Como tem sido complicado falar algo bonito ou demonstrar o que sinto. Sentimentos que não passam de rabiscos perdidos.
Provavelmente, esse seja o meu maior medo. Medo de ficar escrevendo rascunhos e mais rascunhos, mas não ter tempo de passar nenhum a limpo. Medo de que nenhum seja bom o suficiente. Ou que eu não seja suficiente para eles. 
Pronto. Agora é só colocar um ponto final e tudo voltará a fazer sentido. Espero.

sábado, 21 de abril de 2012

Respira, engole o choro. Vai passar. Sempre passa.

Ela entrou pela porta do quarto, segurando o grito, escondendo as batidas de seu coração. Fechou a porta e caiu. Largou suas emoções, derrubou a tristeza e libertou as lágrimas.
Lentamente, olhou para o espelho à sua frente.
Viu-se só. Como se fosse possível, sentiu-se uma única criatura habitando todo o universo. Aquela imagem doía. Ver-se assim, tão vulnerável, fazia a menina se lembrar de sua humanidade, de seus sentimentos. Lembrou-se de cada palavra dita e de como elas eram mentirosas. De cada sorriso torto que surgia tentando disfarçar a dor. De cada olhar que tentava esconder a verdade. Sim, aquela verdade. Uma verdade que ela guardava, fielmente.
Sua imagem no espelho era cruel. Trazia à tona a lembrança de algo que deveria ser jogado fora e que permanecia ali dentro, contudo. Lembrança que abria uma ferida cada vez maior em seu coração.
Aquele momento parecia interminável. Diante do espelho, ajoelhada, a garota revelava para sua própria imagem tudo aquilo que escondeu das outras pessoas durante toda sua vida. Ali, sozinha, ela podia se entregar, deixar sua personalidade fluir e expor suas opiniões. Podia respirar, viver ou somente existir.
Tão frágil aquela menina. Era triste perceber que poucas pessoas a conheciam a esse ponto. Triste ver que poucos se importavam com o que havia por trás daquela aparência elaborada, daquele disfarce, daquela fantasia. Será que alguém algum dia desconfiara de suas reais intenções?
Ela parou. Essa dúvida já era demais. Não, impossível. Ela sempre foi muito discreta e passava despercebida quando o assunto era sua vida. Deixou essa ideia de lado e levantou. Ela sabia que a vida ia sempre aparecer com algum obstáculo, que ela iria cair; cada vez mais. Mas, a menina sabia também que poderia se levantar e começar de novo, sempre que desejasse. 
E então, ela desejou. Reuniu todas as suas forças, respirou fundo, enxugou as lágrimas e levantou. Recuperou as energias, colocou o sorriso estranho de sempre no rosto, abriu a porta e voltou para o mundo. Percebeu que por mais que ela se revelasse, os outros nunca seriam capazes de a compreender. Assim, tudo voltou a fazer sentido. Ela não era estranha por esconder seus sentimentos, não mesmo. A verdade é que cada um se defende como pode. Como quer. 
E quando outras crises vierem, que o tempo se vire e resolva. Basta respirar. Vai passar. Sempre passa.


"É sempre assim que acontece - quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer" - Clarice Lispector.

sábado, 7 de abril de 2012

Relicário Vazio.

Inspirado em uma das poesias líricas de Camões.
Perdoe-me Camões, antes de tudo.
É que sofro do mal do pensamento
que há muito tempo vive em seus versos.


Não sou poeta, não sei falar e pouco escuto.
Sinto-me tão distante dessa tal de sanidade.
Por onde passo, só encontro ideias loucas e perdidas;
frias e mortas,
enchendo meu relicário vazio.


Talvez minhas palavras não sejam tão eficientes quanto as suas;
ou servirão de alerta para alguém nesse mundo.
Mas a vontade de gritar aqui não cabe mais.
Gritar, mandar embora essa racionalidade exagerada.


E aqui estou. Dizendo:
Cansei de pensar, cansei de sentir,
A partir de hoje eu só vou aguardar.
Aguardar o dia em que alguém será capaz de não me iludir.
De me curar ao invés de me ferir,
de ficar ao invés de partir,
de amar ao invés de mentir.
Vou esperar, até demais.


domingo, 18 de março de 2012

Enfrentar preconceitos é o preço que se paga por ser diferente.

Era para ser mais um dia normal, apenas. Não que a normalidade fosse algo bom, se é que vocês me entendem. Mas, não foi. Foi um longo dia. O dia em que percebi como é impossível viver em sociedade. Simplesmente pelo fato de que os homens não nasceram para sobreviver em grupo.
Parti do pressuposto de que o respeito é fundamental para qualquer convivência. E me enganei cegamente. Não há respeito, educação ou senso que faça parar a arrogância. Naquele dia, os olhos alheios mostraram sua face mais cruel, e condenaram. Olharam a superfície e se esqueceram de ir mais à fundo. Esqueceram-se de que pessoas são muito mais que roupas e sapatos à mostra pelo mundo. Pessoas são feitas de ideias, pensamentos e sonhos, esperando por compreensão. E é com muita tristeza que digo isso: hoje, sinto-me observada apenas por aquilo que tenho e não por aquilo que penso, digo ou acredito.
Você, Caro Leitor, deve se perguntar nesse momento qual foi o motivo que me levou a produzir esse texto. E agora, passada a indignação, posso lhes dizer. Foi aquele dia. Aquela noite em que me olharam como um pedaço de carne, podre, degradável. A noite em que conclui como o ser humano pode ser miserável com o próximo. Como ele exclui, desfaz e abandona.
E talvez, eu seja mesmo uma estranha no ninho. Uma tola por acreditar que o mundo vai me conhecer pelo que eu tenho para falar e não por algum tipo de posição social. Uma tola nadando contra a maré e questionando hábitos com os quais todos concordam. Uma tola, teimosa e insatisfeita. Como eu, existem uns outros poucos que também questionam, irritam-se e se surpreendem. Somos pequenos demais, todavia. Perto de tanta futilidade, fica difícil lutar por uma causa. Infelizmente.
E então, eu deixo meu recado. Cansei desse mundo que diz que bonito é ser vulgar. Cansei de pessoas me olhando como se eu não pertencesse à esse planeta. Cansei de julgamentos, cansei de aparências. Cansei de entender essa sociedade desfigurada. Cansei. E sinto muito por isso. Não nasci para agradar, não mesmo. Se ser diferente é um problema, levarei-o para meu túmulo, essa é a verdade. Para vocês, que me olharam torto naquela noite, fica aqui registrado meu profundo desprezo. Acontece que eu não consigo ser tão superficial a ponto de aceitar essa situação, e esse deve ser meu pior defeito. Mais uma vez, sinto muito.
Não há nada de reflexivo, bonito ou poético nesse texto, eu sei. Só algumas (poucas) ironias registrando um desabafo. O desabafo de alguém farta desses esteriótipos imbecis. Chega sociedade, chega!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os persistentes.

Que grande cansaço essa coisa chamada vida. Sempre tomando seus próprios caminhos, trocando nossas direções e surpreendendo. Fazendo-nos boquiabertos diante de situações sem explicação que simplesmente acontecem. E digamos que ela nem sempre nos agrada. Pessoalmente, ela me desagrada muito. Mas, minha opinião pouco importa. Ela é cruel. Tira as pessoas que amamos de nossos braços, derruba-nos, desafia-nos. Leva-nos da vitória à derrota em segundos e parece, por vezes, esconder nossa esperança.
Os persistentes já passaram por isso inúmeras vezes. Mas, continuam vivos. Já perderam tudo, ou todos, menos a fé. Mesmo sendo a vida tão injusta, eles não abandonaram a ideia de que "as coisas ainda podem mudar". E esta é a beleza da persistência. É achar força em meio às lágrimas, achar um ponto de luz dentro da escuridão total. Persistir não é ser tolo. Os persistentes também se deprimem com o mundo, pensam em desistir e se machucam. Perdoam-se, todavia, por ter pensado que tudo iria acabar.
Ser persistente é acreditar, mesmo desacreditando às vezes. Confuso né? Mas, é assim mesmo que ocorre. Persistentes não estão prontos para o sucesso e sim para lidar com os fracassos. Em momentos em que nada parece dar certo, eles se revoltam, explodem e se irritam, mas estão cientes que bem lá no fundo, há algo maior, inexplicável, que não os deixa esquecer de sonhar. Ah, os sonhos. Sempre tão perto e tão longe de nós. Sempre de mãos dadas com a persistência. E sempre tão difíceis de entender.
Por isso, todos devemos aprender com os persistentes. Com a sede de perceber deles, com a disposição para mudar. E vamos, assim, aprender a enfrentar nossos problemas sem reclamar, sem nos sentirmos os mais prejudicados. Afinal, a vida é assim mesmo: cheia de planaltos e planícies trilhando nosso caminho. Basta aceitar. Aceitar que algumas pessoas nasceram com a felicidade pronta; outras nasceram para buscá-la.
Bom, e assim termina mais uma experiência. A semana Dos humanos acabou, mas as dúvidas sobre nossa natureza continuam aqui, latejando. E, provavelmente, elas nunca acabarão, porque ser humano é isso: é querer sempre saber mais do que se deve.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os bem-humorados.

Prefiro chamá-los de colecionadores de sorrisos. Eles o fazem de um modo tão singular que mal consigo descrever. Talvez, espontaneidade seja a que consiga chegar mais perto do estado de espírito dos bem-humorados. O resultado de tanta alegria é a popularidade. Todos querem estar perto, fazer parte e ser amigo do bom-humor, já que com ele não há problema que não possa ser minimizado.
Engana-se você que pensa que ser bem-humorado é fazer piada de tudo. Bom-humor é leveza, é ver oportunidades entre grandes dificuldades. É transformar um "não" em um "quem sabe" e seguir em frente apesar de tudo. Os bem-humorados, na verdade, não sabem que são assim. É sério. Esse é o modo como eles encaram suas vidas, é natural. Bom-humor é somente um rótulo que eles levam do mundo.
Como todos os humanos, nem todos os sentimentos são alegres. O bom-humor, por vezes, também dá lugar à dor, à dúvida, à frustração. O que é, todavia, pequeno perto dos prós da vida. Sim, os bem-humorados prestam mais atenção no que de bom o universo pode lhes oferecer. Eles também caem, e se machucam. Mas, não se sentem inferiores por isso. Simplesmente pelo fato de que o bom-humor os fará levantar no próximo dia. Quantas vezes for necessário.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os desconfiados.

No mínimo, suspeito. Toda e qualquer atitude que ocorra sem motivo aparente é merecedor de investigação. Afinal, tudo que acontece no mundo tem um por quê; uma razão de ser. Esses são os desconfiados, procurando respostas em meio aos comportamentos que não podem entender. Quase tão intrigados quanto os questionadores, estes não podem lidar com o simples fato de acreditar. Colocar a mão no fogo por alguém é como assinar uma sentença de morte, sem volta. São os que pensam mil vezes antes de tomar uma decisão e analisam neuroticamente suas próprias palavras. São mestres na prática de "ficar com o pé atrás". Confiança é um assunto sério demais para eles. Levam tempo para confiar nos outros, mas qualquer passo em falso pode destruir tudo em questão de segundos. Nesse ponto, chegam até a parecer cruéis. Eles não esperam a perfeição, mas não toleram traições, sejam elas físicas ou mentais. Olham misteriosamente, penetram nos outros olhos, duvidam.
Às vezes, a desconfiança deles é confundida com solidão. Mas, não é proposital. Acontece que nem todos são capazes de esperar tanto tempo para serem dignos de confiança. E nessa jornada, os desconfiados acabam sendo deixados de lado e são vistos como pessimistas, infelizes.
Triste mesmo é que ninguém nunca parou para tentar compreender a causa de tamanha cautela. O que sucede é que os desconfiados de hoje foram os apaixonados, intensos e sonhadores de antes. Foram os que apostariam a vida pelo outro, os que acreditavam na verdade e que eram, muitas vezes, inconsequentes. Seguiam o coração e não pensavam nas consequências. Até o dia em que elas chegaram. Dor, ilusão e mais dor. Sem o chão no qual pisavam, os intensos perceberam que a vida não é justa e que as pessoas têm mais defeitos do que qualidades. E foi nesse dia, que eles se transformaram nos desconfiados. Aqueles que duvidam de tudo, até da própria sombra. Os que não se entregam, os que não se revelam. Vivem atrás de seus pensamentos, esperando que algo - ou alguém - possa valer um espaço dentro deles. Os desconfiados são apenas o resultado da decepção. São os fiéis soldados nessa luta. Na luta contra a injustiça.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os irônicos.

Tanta sutileza em poucas palavras. Eu diria até, que a ironia é uma arte. E que são raríssimos os indivíduos que fazem uso dela com maestria. Arrisco dizer também que banalizaram essa figura de linguagem. Agora, ser engraçado é ser irônico, criticar tudo é ironia. Crueldade é ironia e, o pior de tudo: mentira virou ironia. Você fala qualquer coisa a uma pessoa e, no momento em que percebe que não a agradou, diz naturalmente: "Relaxa, eu só estava sendo irônico". E não adianta negar, é exatamente assim que acontece quando dizemos o que pensamos aos outros e não somos capazes de assumir. Toda a culpa sobra para ela. É.
Apesar de tudo, sou a favor da ironia; aquela, sem máscaras. Aquela ironia que incomoda, persiste e argumenta. Aquela que tem um fundamento, que alerta, que impõe. Ou ainda, aquela mais divertida, leve, sem julgamentos ou ofensas, sem intenções destruidoras. A ironia natural, que chega, toma conta e passa despercebida, inerte, tímida. A ironia que torna as pessoas mais interessantes, espertas. Aquela ironia, a pura.
Saudades do tempo que ironizar não era sinônimo de jogar indiretas. Saudade.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os sinceros.

Sinceridade demais é veneno. Chega a parecer grosseria e falta de educação. Sair por aí atacando as outras pessoas, ou discordando delas, simplesmente, para ser dizer diferente (do contra) não significa ser sincero. A sinceridade começa quando deixamos de mentir para nós mesmos e aceitamos nossa natureza, humana e torta.  E não quando nos rotulamos donos da opinião própria.
Sincero é o sorriso que se ganha no reencontro, o olhar que parece parar o tempo. Sincero é um abraço de saudade, uma lembrança dos velhos tempos e o desejo de mudar e acreditar novamente. Sincero é não ter interesse, é almejar a felicidade do outro mesmo que ela se encontre longe da nossa. Esse sentimento é tão espontâneo que, muitas vezes, nem o percebemos nas coisas mais simples do dia-a-dia.
Creio que conheci poucas pessoas que me presentearam com sentimentos sinceros. E eu gostaria de agradecê-las, mas algumas resolveram se ausentar da minha vida, pelo menos por enquanto.
E pode até parecer negatividade, entretanto não consigo encontrar verdade nem em metade das palavras que ouço hoje. É pessimista, eu sei. E eu espero que minha visão possa mudar algum dia, sinceramente.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os egoístas.

O "meu" é sempre melhor que o "seu". É uma frase complexa, quase tão complicada quanto o próprios egoísmo. Pesquisei muito sobre o assunto, devo dizer. Afinal, minha intenção é justamente oposta ao significado da palavra. Parece muito fácil acusar as pessoas de serem egoístas, não é mesmo? Vemos, cada vez mais, indivíduos que só sabem conversar sobre si mesmos e ressaltar suas próprias conquistas. São as vítimas da vida. Sempre reclamando e fazendo drama da boca para fora. Que tal procurarmos entender? Quem nunca fez um pequeno drama que atire a primeira pedra. Mas, não exageremos. Ser sempre o coitado da história não é legal. E não levem isso como uma crítica, mas como uma pequena, e rasa, observação.
Aliás, eu não fui a única a pensar sobre isso. Vasculhando alguns artigos online, deparei-me com uma tal de teoria do egoísmo psicológico. A teoria é longa e vários filósofos fizeram suas análises pessoais. Resumidamente, a mesma tem como base a ideia de que todo e qualquer pensamento altruísta possui, no fundo, um propósito egoísta. Ou seja, quando alguém age de modo a ajudar o próximo ela está, simplesmente, seguindo seus interesses individuais. Desse modo, não houve nenhuma criatura verdadeiramente preocupada com o bem-estar alheio. E nem haverá.
A teoria parece sim muito real; mas, considero-a um tanto radical demais. Apesar de que, deve-se constatar que, temos vivido um pouco do que ela diz. Não se pode mais dizer que haja alguém plenamente feliz em ajudar ou outros ou torcer por seus semelhantes sem ganhar nada em troca.
Enfim, assim como tudo que existe, os excessos são sempre prejudiciais. Ser egoísta demais também é problemático. E por mais automático que seja, não custa nada tentar olhar além da própria imagem refletida no espelho. Auto-confiança e egoísmo são bem diferentes, vale a pena rever nossos conceitos.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dos humanos - Os questionadores.

E lá vou eu tentar inovar mais uma vez. Esse texto tem uma proposta diferente e achei interessante explicá-la primeiro. Na verdade, são sete textos, postados um por dia, que irão trazer uma observação de algumas das características humanas (é, tive que escolher algumas). Não sei de onde tirei inspiração para tanto, mas espero que dê certo. Comecemos questionando, ou com os questionadores, como preferirem.



O "porque" é muito pouco. Questionar o mundo com intensidade é tão natural quanto respirar. A vontade de querer saber mais é, normalmente, insatisfeita e até as palavras são incapazes de representar o tamanho dessas dúvidas. Tirar conclusões também é quase impossível. A ideia de que "não são as respostas que movem o mundo e sim as perguntas" cai perfeitamente bem. Vejo pessoas questionando-se sobre suas escolhas, sobre seus erros. Há quem questione o coração e os caminhos que ele resolve tomar. Há quem questione a si próprio na incansável busca pelo auto-conhecimento. Tem quem questione o tempo, por ser tão curto ou tão longo, quando se quer lembrar ou esquecer de algo. Ah, quantas perguntas. É uma pena que a maioria dessas pessoas não tenham obtido respostas. Ou talvez, as respostas seriam tão decepcionantes que a dúvida não pode acabar nunca. Não sabemos.
E nessa procura por soluções, há quem desista. Os verdadeiros questionadores, contudo, permanecem firmes no planeta das interrogações. Afinal, perguntar é irresistível demais para eles. Por que será?

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ganhar a vida ou construir uma?

O conhecimento é irresistível, devemos concordar nisso. Conhecer os fatos históricos, as ciências, a linguagem e a filosofia é como entrar em um labirinto sem saber se haverá saída. Quanto mais "achamos" que sabemos, mais queremos descobrir. E essa busca pela inteligência, muitas vezes, parece não ter um propósito claramente definido. Pelo que vejo ao meu redor, o conhecimento funciona, somente, como uma escala de poder. Maior o conhecimento, maior o poder para de sobressair entre os demais. E pessoalmente, isso é cruel. É claro, os amantes do Q.I (quociente de inteligência) vão achar tudo isso um absurdo. Dirão que esse papo é coisa de fracassado.
É verdade. Eles estão certos. Somos fracassados sim. Fracassamos ao pensar que a inteligência pudesse ser o mais importante em uma pessoa. Que os níveis de raciocínio ou rapidez mental são felizes ao classificar os indivíduos em inteligentes e não-inteligentes.
Às vezes, sinto-me uma tola por duvidar disso tudo. É só que não consigo acreditar que algo seja capaz de medir a quantidade e a qualidade das informações que alguém possui dentro de si. Afinal, saber e conhecer têm significados distintos. Completamente. Resolver cálculos com destreza, participar de discussões e ler livros de sociologia, por exemplo, não nos torna sábios. Saber tem a ver com viver; com nossas experiências, com o que somos ou com o que temos a acrescentar no mundo. Não acho que isso seja bom, que fique bem claro. Até porque, sem o conhecimento eu não estaria escrevendo esse texto agora. Mas, a maneira como este é usado, infelizmente, é fato.
Na minha concepção, o conhecimento deveria ser desejado; nós temos que ansiar por ele, e quando o tivermos, devorá-lo, incorporá-lo. Sem competições, comparações e julgamentos. Temos que conhecer por vontade própria, sem obrigações. Só assim é possível unir inteligência e sabedoria sem equívocos. E sem mudar o que somos.
A sabedoria me parece algo tão belo para ser deixado de lado dessa maneira. Saber ouvir, ver, acreditar. Saber compreender e observar. Saber viver. Realmente, chegar nesse estágio deve ser pleno. E seguiremos tentando. Usando nossos conhecimentos e inteligência à nosso favor para suavizar essa nossa jornada que se chama vida. Afinal, palavras bonitas não causam efeito algum se não forem usadas no momento ideal.
No fim das contas, inteligência e sabedoria são naturalmente conflitantes. Mas, chegou a sua vez agora. Sim, a sua vez, Caro Leitor. Vocês acreditam que qual dessas duas possa ganhar essa batalha? Ou será que não haverá uma só vitoriosa? Façam suas apostas.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sentir é pensar sem ideias.

Pensar demais doi. As horas parecem não passar e o cansaço é certo. Esse texto nada mais é que uma tentativa, e minha, de descrever essa ideia que não quer sair. Já me deparei com vários escritores tentando entender "qual é" a dessa tal inspiração, que parece agir por vontade própria. Pois é, pelo jeito não estou sozinha por aqui.
De tanto procurar na gavetas empoeiradas do meu cérebro, acabei me perdendo mais ainda. Passei horas pensando e viajando em vão. Há um verso, ou alguns, prontos aqui dentro de mim, eu tenho certeza. Posso sentir as palavras ordenadas  em minha memória, dançando a "dança dos parágrafos", da maneira mais graciosa possível. E nada. Toda vez que pego minha caneta preta de sempre e olho para as folhas brancas, nada acontece. Ah, que angústia é essa? Meus dedos não conseguem parar; parar com essas frases perdidas. O que eu posso fazer? Esqueci de desligar o botão da sensibilidade e encontro-me aqui, pensando sobre pensamentos.
Sinto muito. Também não fui capaz de entender o que acontece comigo, ou conosco. No fundo, deve ser assim mesmo. Cada pessoa herda do mundo aquilo que merece. E a mim, coube essa mania. A mania de pensar demais.


"Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia desse momento
inunda minha vida inteira."
Carlos Drummond de Andrade.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A Estação da Alma - Parte 3 (Final).

Para quem ainda não leu as outras partes, aqui estão: http://poetade-parede.blogspot.com/2012/01/estacao-da-alma-partes-1-e-2.html


Não que León tivesse muita força para se mexer naquele momento, mas a culpa e suas lembranças cruéis faziam o garoto ter certeza de que algumas decisões precisavam ser tomadas. Levantou-se, cambaleante; e o caminho de volta, trouxe-lhe uma ponta de esperança na vida.
Internamente, León pedia perdão aos seus pais todos os dias por toda a ingratidão e desprezo que havia promovido. Passou, então, a fazer visitas periódicas à sua mãe, fato que o fazia sentir-se melhor. Katerina não se recordava do filho, mas aquele garoto ruivo de expressão profunda e fazia muito bem como companhia. E convenhamos que o esquecimento, talvez, fosse a melhor maneira de poupar aquela mãe tão dedicada de memórias sofridas e decepcionantes.
E assim León foi, aos poucos, construindo sua próprias vida; sozinho, sempre. Passou a estudar, terminou a escola regular e ingressou em uma Universidade; frutos de total dedicação. Anos mais tarde, tornou-se um respeitável advogado em Moscou, alcançando prestígio e estabilidade financeira. A área sentimental de León, todavia, não apresentava tamanho êxito. Suas mágoas não permitiam que ele deixasse a solidão. Ele não se esforçava muito em compartilhar suas agonias, pelo medo de que mais alguém sofresse por sua causa. Por isso, o coração andou sempre desocupado. Suas preocupações resumiam-se em visitar sua mãe, trabalhar e organizar suas necessidades vitais. Limitado. O passado não conseguiu deixá-lo em paz, e León simplesmente foi coagido a viver com suas dúvidas todos os dias; questionando o rumo que sua vida tomara e, inevitavelmente, insatisfeito com as respostas que recebia.
Agora Caro Leitor, indelicadamente, permito-nos essa reflexão. León não é o único que passou por esta situação. Quantas e quantas vezes nos pegamos pensando no que teria acontecido se tivéssemos escolhido caminhos diferentes? Pois é, e mesmo assim, parece que nada nem ninguém é capaz de solucionar esse dilema. O arrependimento não é lá das melhores sensações do mundo, convenhamos. Algumas vezes, contudo, ele nos faz repensar atitudes e até nos revoltarmos com elas. Nada que não tenha fim, também. Mas, essa ideia nos é natural, e conviver-nos-emos com ela. E quando aquela indecisão insolente sobre o que teria acontecido vier nos atrapalhar, seremos insolentes na mesma medida. Seguir em frente, acreditando no caminho do coração, sempre.