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domingo, 15 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Os esqueletos no armário.


Por Caio Coletti.
O acaso é uma vadia, mas é um anjo se comparado à memória. Agora, imaginem esses dois juntos. Há quem fale em feridas que são cutucadas e nunca se fecham de verdade. Eu prefiro falar dos esqueletos no armário. Nada mais apropriado: o choque e a perplexidade de descobrir que aquele machucado antigo, aquela questão não-resolvida, ainda é de carne e osso (ou melhor, só osso).
Talvez seja a gente que empurre as más memórias para o fundo da cabeça, onde não conseguimos vê-las, nem senti-las, e as enterremos em cima de roupas jogadas com pressa, amassadas, no armário. Até que um dia resolvemos limpá-lo e bam!, lá está o esqueleto. Ou talvez estejamos andando na rua, e descobrimos que ele criou vida (e pernas!).
Encontrar um esqueleto no armário pode ter consequências terríveis. Pode ser que fique mais difícil seguir com o seu dia, tendo que constantemente ignorar a dor daquela ferida aberta (usando um clichê em um texto sobre um clichê, I regret nothing). Mas, com o tempo, talvez você até se afeiçoe com a caveira ossuda do seu esqueleto no armário. Não é como se você tivesse alguma escolha, afinal. Dá pra se livrar de muitas coisas, mas o passado não é uma delas.
Você vai acabar vestindo seu esqueleto, à moda da atualidade, para ele não parecer desinteressante, e maquiá-lo, deixá-lo apresentável. Transformá-lo em uma história para contar. Por mais que, no fundo, você saiba bem o quanto aqueles ossos te causaram dor, um dia.
"Um professor de redação literária que tive na San Jose State sempre dizia, referindo-seaos clichês: "Tratem de evitá-los como se evita uma praga." E ria da própria piada. A turma toda ria junto com ele, mas sempre achei que aquilo era uma tremenda injustiça. Porque, muitas vezes, eles são de uma precisão impressionante. O problema é que a adequação das expressões-clichês é ofuscada pela natureza da expressão enquanto clichê. Por exemplo, aquela história do "esqueleto no armário." - Khaled Hosseini em O Caçador de Pipas.
Não esqueçam de visitar o blog do Caio: O Anagrama.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Antes só do que mal acompanhado.

Como pode alguém nesse mundo almejar a solidão? Companhias más, todos temos. Nada ad eternum, nada que não possa mudar. Esse tal de "antes só do que mal acompanhado' soa para mim apenas como escapatória. Ou como um grande drama, se preferirem. E olha que eu simpatizo com os dramas; mas esse, esse não me agrada. Parece-me cômodo demais dizer que deseja a solidão no lugar das más companhias. Enorme besteira.
Se você sente que está mal acompanhado, está perdendo tempo em não mudar. Mude. De dentro para fora, essa é a ordem. Procure novos lugares, novas pessoas, cultive outros hábitos, crie paixões, sinta. Sair da nossa zona de conforto e recomeçar quantas vezes for necessário pode dar certo também. E vale lembrar que estar sozinho não é estar só. Se nada der certo, você ainda tem a si mesmo. Quer companhia melhor que essa?

terça-feira, 10 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Cada cabeça, uma sentença.

Difícil é lidar com a verdade. A gente vive pensando e repensando nossas atitudes, ou simplesmente agindo por impulso, com o simples intuito de acertar. É o tal do maniqueísmo; o dualismo entre o bem e o mal, sempre presente em nossas vidas. Queremos acertar a cor da blusa, a caligrafia redondinha e os números da mega sena. Queremos acertar nosso caminho, nosso futuro e nossas companhias. Temos tanto medo de errar que deixamos de viver certos momentos para evitar julgamentos, interiores ou não. E só para deixar claro, não estou sendo contra o medo, nem contra esse receio de arriscar; só o descrevo como acontece.
E é aí que começa o problema. Quando a gente passa a buscar por algo correto (ele existe?) passamos a julgar as ações à nossa volta. Definimos e fixamos verdades absolutas. Que não são totalmente reais, convenhamos. Esquecemo-nos de que as pessoas são únicas, e portanto, não há como impor qualquer tipo de conceito universal sobre a vida.
Nem adianta você me dizer que nunca julgou. Porque sim, todos nós já fizemos e continuamos  o fazendo, somos humanos. Tudo que é distinto ao nosso ângulo de visão provoca certo estranhamento. Sem exageros, preconceitos e sem nos fecharmos para novas experiências, esse julgamento individual pode até continuar a existir. Mas vale lembrar que cada pessoa tem, dentro de si, seu próprio mundo, suas próprias verdades absolutas. E ele não é melhor nem pior que os demais. É apenas uma outra perspectiva para lidar com a vida. Afinal; cabeças diferentes, sentenças diferentes.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Sobre clichês e frases feitas - Desgraça pouca é bobagem.

Foram várias ideias, vários rascunhos e muita impaciência. Enfim, depois de algum tempo e pouquíssimas horas de sono, aqui estou eu. Resolvi aproveitar as férias para trazer de volta a proposta da série Dos Humanos (para quem ainda não leu, o primeiro texto está aqui). Desta vez também serão 7 artigos, postados 1 por dia, mas que trarão comentários e observações sobre os clichês, ditados populares, frases feitas e afins; aos quais somos expostos diariamente. Que tal pensarmos um pouco sobre isso?


Quando tudo tem dado errado e parece que você fez todas as escolhas da maneira mais equivocada possível. Você para e pensa: "Será que tem como piorar, hein vida?". Espere. Tem sim. Suponho que você esteja vivo; então se prepare, a vida ainda pode te afundar um pouquinho mais. Afinal, desgraça pouca é bobagem. E como se não bastasse um único problema, as preocupações resolvem aparecer todas-ao-mesmo-tempo-agora.
Pode ser a vida profissional que não demonstra evolução. Pode ser a amorosa, e as mentiras que ela pode trazer consigo. Pode ser a sua imagem no espelho; petulante, infeliz. Pode ser a presença de alguém, aquele ser irritante. Pode ser a existência pura e simples e o tédio que, ocasionalmente, ela promove. Ou ainda, e muito provavelmente, podem ser todas essas razões juntas. A roupa que não serve, o arroz que desanda, o cabelo que não pode ser domado. E pronto: você é um desgraçado por completo. Chora, grita e bate a cabeça na parede. Eu sei, Querido Leitor, não está fácil para ninguém.
Desistir soa como uma boa opção e até, dependendo da gravidade da situação, como a melhor. Não se culpe por ter pensado em jogar tudo para o alto, todavia. É normal que nos sintamos os mais prejudicados do mundo, acredite. É normal ter vontade de gritar quando tudo parece ao contrário. E eu arrisco até dizer que a gente tem mesmo que tocar o chão do fundo do poço para pensar em alguma saída, em algum outro caminho. É como se você precisasse ficar inteiramente no escuro para aprender a dar valor a um único ponto de luz existente, independente de sua origem ou intensidade. É só a luz que importa.
Com as "desgraças" também funciona assim. Você tem que conhecê-las para poder se livrar delas. E acredite, você só tem os problemas que é capaz de carregar. Nem mais, nem menos. É uma questão de perceber que quando sua vida vira do avesso, talvez seja porque o avesso sempre foi seu lado certo. Aguente firme. Sorria. Apegue-se à pouca luz que ainda há no seu quarto. Permita-se errar. Não há desgraça que sobreviva à isso, é infalível.