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domingo, 30 de dezembro de 2012

Dose dupla.

Às vezes acho que tenho um coração no lugar do cérebro,
porque eu posso sentir as batidas;
posso sentir a dor de pensar sentindo
e a sensação de sentir pensando,
contidas no espaço de uma contração.

Enquanto os outros usam suas cabeças para pensar na vida,
a minha quer sentir.
Sente a perda, a culpa e a saudade.
Sente o adeus, o medo e a verdade.

E assim, todo verso fica pequeno;
toda poesia, incompleta.
Pois aqui dentro há dois corações
que pulsam sem compasso e pedem pra ir embora.
Só.

Uma pena que eu não saiba pensar,
não saiba ir sem desejar voltar.
Só deixar para trás, sem olhar para os lados.
Esquecer.

Mas eu não sei esquecer,
só sei querer.
Querer que volte, querer que pare, querer que fique.
Querer o antes, querer agora, querer um sempre.

Para sempre.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O apocalipse é você.

Esses dias eu parei para olhar para os lados, algo que há muito não fazia. Bateu saudade e eu fui. Preferia não tê-lo feito, todavia. O que eu vi daria um livro, com páginas manchadas de lágrimas e sangue. Foi horrível. E o pior de tudo foi a minha falta de espanto. Como se eu não pudesse esperar nenhuma atitude melhor mesmo; é decepcionante. A sensação de não poder criar boas expectativas é indescritivelmente assustadora. Como se não houvesse solução. Impotência. Frustração. 
Eu vi a dor. Fraturas expostas e até remoção de órgãos. Vi o ódio, sem motivação, estampado nos olhares entre as pessoas. Justo nos olhos, meus preferidos. Eu vi a vontade de vingança, o desdém e a provocação barata, bem ali, na minha frente. Vi o desprezo, a indiferença e a falta de criatividade. Vi uma ausência expressiva de personalidade e a ingenuidade imbecil na crença de que é possível ser igual a alguém. Vi personificações da maldade, da ironia e da mentira. Mentiras tão verdadeiras que fizeram de grandes verdades, uma imensa ilusão. Vi pessoas sofrendo, vi lágrimas e diante da minha incompetência, mal consegui enxugá-las. Encontrei pessoas que feri. Feridas. Eu vi gente virando as costas ao invés de estender a mão. Vi luzes se apagarem. O sol se esconder. A chuva lavar a alma. Vi marcas que ficaram nos lugares que visitei e as lembranças que elas guardarão. Vi o sofrimento. Vi quem deseja o sofrimento alheio. Provoca. Abre as feridas. Vi a satisfação em fazer alguém sofrer. O prazer pela queda do outro. Vi a crueldade, genuína. Vi mais pessoas torcendo contra que a favor. Vi a solidão. O fim. Eu vi o fim de tudo.
Definitivamente, a culpa não é do mundo. O apocalipse está dentro de nós, que assistimos esse jogo de horror calados, apontando as machucados apenas como consequências da vida. Não são. O nome disso é desrespeito, dos grandes.
E de acordo com meus cálculos, a humanidade anda perdendo, ou melhor, anda perdida. Em meio à tantos erros, talvez seja mesmo a hora de virar a página e começar a primeira linha de novo. Começar pelo respeito e pelo cuidado com o outro.
Convenhamos que não dá para viver desse jeito. Se você é emocional, é tolo. Se é racional, é frio. Se quer ajudar o próximo, é sonhador. Caso contrário, é sem coração. Se escreve poesia, é esnobe. Se escreve ficção, é desocupado. Se escreve crônicas, é infeliz. O problema é que você escreve, mas se não o faz, ninguém te ouve. Se sorri, parece bobo. Se chora, parece fraco. Se diz que tudo está bem, é mentiroso. Se diz tudo o que pensa, é corajoso. Se pensa antes de falar para não machucar quem ama, é covarde. Se você é quieto, é sozinho. Se é falso, é popular. Se você quer agradar, força a simpatia. Do contrário, será chamado de chato. Eles querem que você não seja você mesmo, porque na maioria das vezes, isso não corresponde às expectativas. Preferem a mentira, o egoísmo e o sorriso forçado. Uma pena.
E sinceramente, em um mundo em que demonstrar sentimentos é ser considerado vulnerável e fraco, eu não vejo outra solução que não o fim. Quem sabe o novo começo traga mais doçura e sensibilidade.
Que esse mundo acabe logo, por favor.